quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Gênesis e nossa natureza selvagem


Em minha frente, uma página em branco. O que escrever?
Penso sobre o Gênesis, mas me deparo com uma sensação parecida com a do Criador, quando tudo era sem forma e vazio. Nada tão insustentável como o Nada!
- Haja luz!
O Criador quebra a inércia e revela a si mesmo em sua criação. Quanta selvagem criatividade! Quanto ímpeto! Quanto amor próprio derramado na sua imagem e semelhança! Quanta beleza primitiva derramada no verdadeiro nu artístico da criação. Quão arriscado ao Criador foi apostar contra si mesmo, quando resolve partilhar com o ser humano um dos atributos mais caros da sua essência: a liberdade! Liberdade plena!
Liberdade moral de acertar, errar e voltar a acertar e errar infinitamente, como uma dança individual que passou a social. Liberdade inclusive de negar a autoria e a própria existência do Criador. Liberdade de destruir a criação. Neste caso, como o Criador se sente? Como rolariam as suas lágrimas? Como orvalho ou tempestade? Teria Ele inventado o amor como no verso de Camões, “se tão contrário a si é o mesmo Amor”? A pergunta faz calar, mas de uma coisa sabemos: Ele arriscou.
Ainda Bem! Sem liberdade não poderíamos conhecê-Lo, nem muito menos, amá-Lo.
A criação – imagem e semelhança deste Criador amado, mal-amado, ou ainda desconhecido – tem também a sua saga.
Lembro de um filme que me  marcou: Na Natureza Selvagem (2007), de Sean Penn. Conta a história de um jovem promissor que tinha tudo para dar certo, e deu. Tudo para dar errado, e também deu. Ele tinha tudo, mas não tinha nada! Desprezou seu diploma, queimou seu dinheiro e fugiu de casa em busca de sua verdadeira casa. Realizou-se mergulhando na natureza selvagem (e dentro de si). Deu de cara com o seu Criador, a quem não conhecia. Mas será que chegou a conhecê-Lo? O vento carregava uma página em branco…

Murilo Marques

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